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Museu Marítimo do Brasil
Rio de Janeiro - RJ

Museu Marítimo

O Brasil nasceu das águas. Não é exagero poético, mas uma constatação

histórica. O primeiro contato entre os povos originários e os navegadores

portugueses se dá na beira d’água, assim como os diversos ritos (e mitos)

fundadores. A motivação mercantil lançou as caravelas portuguesas ao mar

e, mais tarde, traria os africanos escravizados através do oceano. Somos um

país com um litoral gigantesco. O mar explica muito daquilo que é hoje o

Brasil.

Da mesma forma, o Rio de Janeiro confunde sua história com a da Baía de

Guanabara. O lugar onde este museu se coloca é de uma importância

incomensurável. Ao mesmo tempo, a pesquisa que conduziu a este projeto

mostra um dado surpreendente: é um lugar invisibilizado pela história. É

difícil se perceber, apenas transitando ali, que este espaço já foi

configurado como o mais importante entreposto comercial do país. O Cais

dos Mineiros, onde permanece apenas um pedaço de parede do antigo

prédio da patromoria da Capitania dos Portos, faz parte da história de

inúmeros viajantes que, forçados ou não, chegavam por ali e começavam

sua história no país. Da Doca da Alfândega, pouco permanece como

memória. A construção do Viaduto da Perimetral foi insensível com as

permanências e arrasou com o conjunto arquitetônico que ladeava a borda

d’água. O eixo da Avenida Presidente Vargas, pungente no tecido urbano

carioca, não se relaciona de forma alguma com o que está ali hoje.

Buscou-se, neste projeto, expressar que o primeiro item do acervo do

Museu Marítimo é o lugar onde ele se encontra. O resgate da memória e de

todo o patrimônio cultural que envolve esta parte da zona portuária do Rio

de Janeiro foi o ponto de partida.

O volume do edifício onde estará a exposição é a afirmação de dois

elementos históricos. A parte superior é uma projeção pura da geometria

do píer-molhe, um elemento fortemente horizontal de 300 metros de

comprimento. A parte inferior é a projeção da planta dos galpões que

estiveram sobre o píer na virada do Século XIX para o XX. O limite entre

esses dois volumes, irregular na altura, é dado pela laje contínua e inclinada

que virá compor o percurso da exposição permanente. Uma interrupção de

66 metros na parte inferior é formada pela continuação do eixo da Avenida

Presidente Vargas, tangente à Ilha das Cobras, e conecta visualmente a

Candelária com a Baía de Guanabara.

Transverso e alinhado pelo mesmo eixo, um segundo volume dá o acesso ao museu. A

largura deste é conformada para que seja legivelmente o quarto elemento da praça

formada pela Casa França-Brasil, Centro Cultural do Banco do Brasil e Centro Cultural

dos Correios. Os dois volumes se interpenetram e o final da dársena estabelece uma

ponte entre os dois edifícios, a “ponte de embarque” para o museu. Essa conformação

estabelece uma segunda praça, esta formada pelos volumes do museu e os edifícios da

Capitania dos Portos e do Tribunal Marítimo, reforçando a importância dessas

edificações neste lugar. Uma escadaria liga a praça seca ao seu trecho aquático, onde

podem ocorrer tanto instalações artísticas como espetáculos sobre plataformas

flutuantes. Quis-se fazer da água uma extensão do espaço público.

Os fechamentos deveriam contrastar. O volume sobre o píer foi revestido por uma pele

de aço cortem perfurado em padronagens irregulares, de modo a proteger da

insolação excessiva a parte interna do edifício, mas que procura transmitir a sensação

de algo que se degrada no tempo. Algo como o casco de um navio abandonado que

é corroído pela maresia e revela, aos poucos, suas estruturas internas. O volume que

faz referência aos galpões é revestido por madeira flameada, técnica que protege a

madeira mas que dá estanqueidade visual e uma textura alheia ao tempo. O volume

transversal, por outro lado, é leve, translúcido e ilumina-se como uma lanterna. O

brise de vidro serigrafado desconstrói os limites da forma, ao mesmo tempo que

impõe um volume etéreo que revela seu arranjo interno: empena infraestrutural,

massa do auditório e passarelas.

Por fim, decidiu-se manter a saída dos barcos de passeio no Cais da Patromoria, ou

dos Mineiros, reafirmando seu papel histórico de lugar de embarque, mas com a

adição de um equipamento de apoio à espera, assim como painéis informativos

sobre o que é aquele lugar.

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